DT Portugal No. 1, 2021DT Portugal No. 1, 2021DT Portugal No. 1, 2021

DT Portugal No. 1, 2021

Gestão do risco de cárie dentária: A prática dos médicos dentistas e a influência de orientações e protocolos — constituição de coorte

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Gestão do risco
de cárie dentária:
A prática dos médicos
dentistas e a influência
de orientações
e protocolos —
constituição de coorte
por Drs Jean Noël Vergnes,
Agnieszka Mielczarek, Nikolai
Sharkov, Maria Gkaveli, José Frias
Bulhosa, Mohammed Bennani &
Sylvain Levet, França, Polónia,
Bulgária, Grécia & Portugal

Introdução
Nos últimos 30 anos,
verificou-se uma evolução epidemiológica na
redução da cárie dentária. Ainda assim, esta
continua a representar
um problema de saúde significativo. Apesar
do desenvolvimento de
orientações para a identificação precoce de pacientes com risco elevado de cárie dentária e de
estratégias preventivas
para populações de risco
elevado, são escassos os
dados sobre as práticas

dos médicos dentistas na
Europa.
Objetivos
Neste artigo, 1) é descrita a adesão dos médicos
dentistas às orientações
para a gestão do risco de
cárie dentária para, 2)
posteriormente, ser avaliado o impacto das suas
estratégias.
Método
Foi realizado um estudo
internacional, epidemiológico,
observacional,
retrospetivo e prospetivo com uma coorte
longitudinal, envolvendo médicos dentistas de
quatro países europeus:
Polónia, Bulgária, Portugal e Grécia. Este estudo
teve início em 2019. Neste artigo são apresenta-

dos os dados iniciais recolhidos na constituição
da coorte, incluindo as
práticas de gestão do risco de cárie dentária reportadas pelos médicos
dentistas participantes e
a condição dentária dos
pacientes que aceitaram
ser incluídos no estudo.
Resultados
Aceitaram
participar
neste estudo 51 médicos
dentistas (19 búlgaros, 8
gregos, 14 polacos e 10
portugueses), com uma
média de idades de 44
anos (± 12) e uma média de 19 anos de prática, sendo a maioria do
sexo feminino (63 %).
A maioria dos médicos dentistas possuíam
uma especialização: em

medicina dentária pediátrica (15,7 %), cirurgia dentária (15,7 %) ou
endodontia/odontolog ia
restauradora (15,7 %), ao
passo que apenas 13,7 %
eram médicos dentistas
generalistas. No total,
48 % tinham recebido
formação específica em
gestão do risco de cárie
dentária na universidade, embora houvesse
variações entre os países: 78,6 % na Polónia,
60 % em Portugal, 28,6 %
na Grécia e 26,3 % na
Bulgária. Quase todos
os médicos dentistas
indicaram que faziam
formação contínua em
medicina dentária, mas
apenas 72 % consideravam estar atualizados.
A formação específica


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Edição portuguesa

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Janeiro/Fevereiro 2021 | VOL. 12, NO. 1

Fig. 1: Comparação entre médicos dentistas com e sem formação universitária em gestão do risco de cárie
dentária em relação à sua adesão às orientações para a gestão do risco de cárie dentária.

Fig. 2: Associação do estatuto socioeconómico dos pacientes com o risco de cárie dentária e a presença
de lesões de cárie dentária.

em gestão do risco de
cárie dentária em clínica estava fortemente
associada à aplicação
das orientações para a
prática diária (95 % vs.
60 %, respetivamente;
Fig. 1). No geral, mais
de metade dos médicos
dentistas
realizavam
uma Avaliação do Risco
de Cárie (ARC) sistemá-

tica, havendo diferenças
entre os países: 100 % na
Grécia, 77,8 % em Portugal, 47,4 % na Bulgária
e 35,7 % na Polónia. As
ARC baseavam-se principalmente em exame
oral (98 %), entrevista
médica (79,6 %), avaliação nutricional (71,4 %),
exames
radiográficos
(67,3 %), tratamento tópi-

co com f lúor (51 %) e ingestão de f lúor (40,8 %).
Com menor frequência,
eram também utilizadas análises biológicas
e escalas ou software de
ARC.
Foram
incluídos
na
coorte 1009 pacientes,
com uma média de idade de 35,4 anos (± 19,7),
apresentando a seguinte

News 45

distribuição: 366 da Bulgária, 281 da Grécia, 276
da Polónia e 86 de Portugal. Destes, 56 % eram
do sexo feminino. Quase
80 % tinham sofrido cáries recentemente, apesar de mais de 90 % dos
pacientes terem declarado que escovavam os
dentes diariamente, sendo utilizada pasta com
f lúor em 80 % dos casos.
As lesões de cárie dentária ativas e o risco de cárie parecem estar mais
associados a pacientes
com um estatuto socioeconómico baixo. Foram
observadas lesões de
cárie ativas em 33,5 %,
48,2 % e 61,2 % dos pacientes com um estatuto
socioeconómico elevado,
médio e baixo, respetivamente. Coerentemente, os médicos dentistas
indicaram um elevado
risco de cárie em 36,6 %,
48,5 % e 70,0 % dos pacientes com um estatuto
socioeconómico elevado,
médio e baixo, respetivamente (Fig. 2).
Relativamente à condição dos doentes na consulta de inclusão, foi
detetada placa visível
nos dentes em 53,2 % dos
casos, presença de lesões de cárie ativas em
44,1 % dos casos e sulcos
profundos e fissuras em
38,2 %. Estas frequências foram superiores
nos
pacientes portugueses (67,4 %, 77,9 % e
53,5 %, respetivamente).
Durante a consulta de
inclusão, a restauração
direta foi o tratamento mais frequentemente
administrado (a aproxi-


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Edição portuguesa

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Janeiro/Fevereiro 2021 | VOL. 12, NO. 1

©Pierre Fabre

46 News

A equipa e investigação é composta por especialistas em medicina dentária da Bulgária, Grécia, Polónia, Portugal e membros da Pierre Fabre.

madamente 50 % dos pacientes).
Durante a consulta, a
maioria dos pacientes
recebeu aconselhamento sobre higiene oral ou
alimentação, com algumas variações entre os
países (98,9 % na Bulgária, 92,2 % na Grécia,
78,3 % na Polónia e 64 %
em Portugal). Segundo
os médicos dentistas,
mais de 50 % dos pacientes mostraram uma atitude positiva em relação
à prestação de cuidados
e vontade de cooperar,
havendo variações entre

os países (68,3 % na Bulgária, 59,1 % na Polónia,
46,3 % na Grécia e 29,1 %
em Portugal).
Conclusão
Este é o primeiro estudo
internacional com uma
coorte de grande escala
realizado para descrever as práticas de médicos dentistas, reportadas
pelos próprios, relativas
às orientações para a
gestão do risco de cárie
dentária e os consequentes impactos nas suas
atitudes na prestação de
cuidados aos pacientes.

Observou-se uma grande diversidade na gestão
do risco de cárie e aconselhamento
praticados
por médicos dentistas
dos quatro diferentes
países europeus. Está
atualmente a ser realizada uma investigação
retrospetiva da história
dentária do paciente nos
últimos três anos e será
realizado um acompanhamento
prospetivo,
que, em conjunto, irão
ajudar a determinar com
maior precisão o impacto da adesão dos médicos
dentistas às recomen-

dações para a gestão do
risco de cárie dentária
Nota editorial: O estudo
CARMEN (Caries Risk Management) deverá decorrer
até ao final de 2022 e os resultados finais deverão ser
publicados dois ou três anos
mais tarde. Os resultados
preliminares ainda não foram revistos por pares nem
publicados numa revista
científica. O estudo está a
ser patrocinado pela Pierre
Fabre Oral Care, fornecedor de produtos de higiene
oral e cuidados para médicos dentistas e pacientes.


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